A crítica de teatro encontrou na internet, por meio de blogs e revistas eletrônicas, um espaço amplo para se desenvolver e repensar o fazer cênico. Refletindo esse universo, a autora carioca Daniele Avila Small lançou em 2015 o livro “O crítico ignorante”.
Junto com a professora de teatro da Universidade Federal do Rio de Janeiro Dinah Cesare, Daniele Avila Small mantém a revista eletrônica Questão de Crítica.
A autora conversou com o Portal do Teatro Mineiro sobre seu livro e diz encarar a crítica teatral como uma força emancipatória.
Leia a entrevista:
Portal do Teatro Mineiro: Por que “O crítico ignorante”? Em que o seu livro se inspirou ou se parece com a obra “O mestre ignorante”, do professor e filósofo francês Jacques Rancière?
Daniele Avila Small: O título é uma referência direta ao livro “O mestre ignorante”, construído com base na pedagogia do também professor e filósofo francês Joseph Jacotot (1770-1840),que defende uma proposta de pedagogia livre e emancipatória. Com essa ideia, Jacotot inspirou algumas reflexões de Rancière sobre o teatro, especialmente a que motivou a palestra O Espectador Emancipado, que depois foi publicada como artigo em 2008. Eu fiz a primeira tradução desse artigo, que foi publicado ainda em 2008 na Questão de Crítica. A ideia de crítica proposta no meu livro parte da reflexão inicial desses autores, pois um dos problemas mais graves dos críticos de teatro é achar que o espectador está em uma condição de menoridade. O espectador não precisa ser emancipado. Ele já é emancipado. Isso é o que eu defendo. Portal do Teatro Mineiro: Assistir sobre um espetáculo e falar sobre ele é um ato intelectual?
Daniele Avila Small: Sim, com certeza. A atitude crítica está presente na recepção teatral, em maior ou menor voltagem. Há espetáculos que estimulam a atitude crítica, outros que tentam apaziguar essa disposição intelectual. Há crítica que toma o espectador como um consumidor acéfalo de entretenimento barato. Mas há crítica que escreve para o espectador que está afim do teatro, de pensar com as artes cênicas, que tem entusiasmo. Temos uma tradição muito mesquinha de usar o termo intelectual como pejorativo. É preciso estar atento e afirmar a beleza e o prazer das aventuras intelectuais. O teatro e a crítica, juntos, têm essa força de emancipação.
Portal do Teatro Mineiro: Além de Jacques Rancière, quais as referências e inspirações utilizadas no período de produção do seu livro?
Daniele Avila Small: O livro tem algumas referências à história da crítica, a partir de pensadores como o historiador alemão Reinhart Koselleck (1923-2006) e o filósofo britânico Terry Eagleton. O pensamento sobre a forma da crítica, especialmente sobre o ensaio como forma, tem suas bases nos filósofos Georg Lukács (1885-1971) e Theodor Adorno (1903-1969). Mas uma inspiração mais próxima é Yan Michalski (1932-1990) e sua trajetória como crítico, pensador de teatro e professor. A sua revista Ensaio/Teatro foi uma inspiração para a criação da Questão de Crítica.
Serviço:
O quê: Livro O Crítico Ignorante
Onde comprar: Editora 7Letras / www.7letras.com.br
Quanto: R$ 36