Resistência nos palcos

Transformar o espectador em ator e assim torná-lo sujeito de sua própria cena. Não há como estruturar um diálogo compreensível sobre teatro político sem mergulhar em suas raízes e mencionar o diretor Augusto Boal (1931-2009). Ou sem entender o modelo de resistência cultural desenvolvido no período da ditadura militar com a criação de alguns dos mais importantes grupos de nossa história: o Teatro de Arena, o Movimento de Cultura Popular de Pernambuco e o Centro Popular de Cultura (CPC).

Foi sobre esses pilares que dois pesquisadores do assunto no Brasil, Rafael Villas Bôas, coordenador do programa teatro Terra em Cena e professor da UnB, e José Fernando de Azevedo, diretor e professor de teorias do teatro na Escola de Arte Dramática (EAD-ECA/USP), teceram uma rede de questionamentos sobre o teatro político na contemporaneidade durante o IV Seminário Subtexto em Diálogo: O Teatro Político no Agora, que ocorreu no último sábado no Galpão Cine Horto, na capital.

 

Rafael Villas Bôas e José Fernando Azevedo, respectivamente .

Para compreender o modelo de Teatro do Oprimido proposto à época por Boal, exilado em 1969, é preciso se desprender de padrões estéticos rígidos, muitas vezes ditados pela televisão e pelos teatros de imersão feitos exclusivamente para o entretenimento.  Como explicou Rafael, a peça feita para a rua, para os transeuntes, além de fazer com que a plateia possa ser parte ativa do espetáculo, tem uma beleza e qualidade diferentes das montagens produzidas para um ambiente fechado.

“A história da resistência teatral na época da ditadura é visceral. Fazer teatro naquele período era muito diferente que fazer teatro hoje. São décadas de sobreposições de um padrão hegemônico que influencia as experiências vivenciadas atualmente pelos alunos de artes cênicas. A luta popular não tem espaço na televisão brasileira”, disse.

Augusto Boal e o Teatro do Oprimido em Paris. Cedoc-Funarte

 

Alguns estilos teatrais - Teatro de Jornal, Teatro Fórum, Teatro de imagem e Teatro de Tribunal - ainda são utilizados como forma de resistência por grupos e movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Os movimentos sociais se apropriaram do teatro de diversas formas. O teatro do invisível, por exemplo, foi e ainda é usado como tática de ação para entrar em espaços da elite. Um meio pra suprir uma necessidade objetiva”, acrescentou Rafael.

No entanto, na percepção de José Fernando, é preciso ir além do debate político. “Não é suficiente tematizar a luta de classes se o texto teatral não se reconhece nela. Precisamos nos perguntar qual a produção do artista no interior dessas relações. E, a partir daí, entender o teatro como força produtiva”.

Produzido pelo Centro de Pesquisa e Memória do Teatro Galpão Cine Horto, com incentivo da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, o debate reuniu professores, pesquisadores, artistas locais e de outros Estados para dialogar sobre Teatro Político. As questões pontuadas no encontro serão reproduzidas na décima segunda edição daRevista Subtexto de Teatro, que será lançada no segundo semestre de 2016.

Após a mesa, Rafael falou ao Portal do Teatro Mineiro sobre a importância de eventos como o Seminário para o crescimento do teatro político no país. Confira no vídeo:

 

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