Cia. de Dança Palácio das Artes se apresenta na Campanha de Popularização do Teatro & Dança

No espetáculo, inspirado no universo de Manoel de Barros, coisas se humanizam e pessoas se coisificam 

“Eu escrevo com o corpo. Poesia não é para compreender, mas para incorporar”. O trecho do livro Gramática expositiva do chão: poesia quase toda, de Manoel de Barros ecoa no espetáculo Nuvens de Barro, montagem que a Cia de Dança Palácio das Artes apresenta em segunda temporada da 43ª Campanha de Popularização Teatro & Dança. Nesse trabalho, a Cia de Dança mergulha no universo lírico e brejeiro do Poeta do Pantanal para descobrir, inventar e reinventar a delicadeza, a simplicidade e o realismo fantástico, sempre presentes nos versos de um dos maiores representantes do período pós-moderno da literatura brasileira.

Com direção coreográfica de FernandoMartins e direção cênica de JoaquimElias e Fernando Martins, e livremente inspirado na obra de Manoel de Barros, Nuvens de Barro é uma coreografia criada de maneira colaborativa entre os bailarinos da Cia de Dança, em mais um processo que envolveu um período de pesquisas. Durante dois meses o coletivo se debruçou sobre a obra de Barros até encontrar um ponto que unisse a dança e a poesia e indicasse o caminho para o novo trabalho. Serão dois elencos, compostos por nove bailarinos, que vão se revezar nas apresentações.

Inspirados pelas metáforas de Manoel de Barros em que coisas se humanizam e pessoas se coisificam, os bailarinos passaram a identificar e criar movimentos que refletissem o imaginário poético da obra. Desse processo, surge uma coreografia inventiva e inventada, em que os bailarinos permitem ser permeados por um universo lírico e ocupam outros corpos, criando algo híbrido, mutável. Ora transformam-se em peixes dançarinos, ora em pedras que se tornam pássaros; que se tornam homens. Elementos cênicos como maçãs e plantas ganhamvida e se transformam em novos objetos – ou corpos –, que também interagem com os bailarinos.

Por beber da fonte de Manoel de Barros, o espetáculo tem um direcionamento mais leve, evocando a delicadeza dos textos que inspiraram a coreografia, como explica o regente da Cia de Dança, Cristiano Reis. Ele também esclarece que a proposta é fazer com que o público possa criar uma relação afetiva com o espetáculo, ao reconhecer e interpretar elementos cênicos na coreografia. “Manoel de Barros evoca muito a infância em alguns de seus poemas. O que nós queremos com essa montagem é poder, além de transmitir a delicadeza dos versos por meio da dança, criar uma relação afetiva no público, já que o universo dessa montagem pode ser compreendido e imaginado por qualquer pessoa, tendo ela vivido ou não uma cena ou situação identificada durante o espetáculo”, destaca.

O nome da coreografia também é uma alusão às metáforas de Manoel de Barros. A ideia é unir dois elementos que já possuem um significado explícito e criar um terceiro, quase irreal ou inimaginável. A nuvem transmite a leveza, o lado delicado do trabalho. Já o barro é a parte mais pesada, mais palpável. “Quando estávamos pensando no nome da coreografia, esses dois elementos surgiram de uma forma muito nítida para nós. Então, decidimos uni-los, criando as ‘nuvens de barro’, um diálogo interessante com o realismo fantástico do Manoel”, explica Cristiano Reis.

Caminhos diferentes para a criação – Os convidados para conduzir a montagem de Nuvens de Barros compartilham de diferentes experiências no universo literário de Manoel de Barros. A escolha dos diretores, Joaquim Elias e Fernando Martins, surgiu por uma necessidade de trabalhar a nova coreografia a partir de um olhar mais amplo, unindo elementos da narrativa teatral e da dança. Joaquim Elias iniciou as atividades com a preparação corporal e cênica do grupo. Já Fernando Martins aplicou no grupo uma técnica denominada Brain Diving, que consiste em conectar corpo e mente e transformar essa conexão em movimento. O grupo passou, então, a pensar como dar fisicalidade e realismo aos elementos identificados anteriormente nas oficinas com Joaquim.

Figurino, cenografia, iluminação e trilha sonora – Outros componentes cênicos também refletem a interação entre corpos e objetos. O figurino, por exemplo, criado pelo diretor de arte Rai Bento e a assistente Renata Alice, traz fortes referências à simplicidade da vestimenta dos povos camponeses ao mesmo tempo em que reproduz a silhueta de peças mais urbanas, mas sem deixar claro o que define cada estilo. Tecidos delicados e transparências reproduzem a ideia de movimento e leveza. As cores das peças também evocam o ambiente natural de Manoel de Barros, com predominância de tons terra, ocre e com leves toques de verde musgo.

Já o cenário do espetáculo é construído a partir de um olhar mais voltado para texturas lembrando cascas de árvores e pedras. Enquanto a iluminação cênica remete tanto aos raios de sol quanto às sombras.

A trilha sonora mescla composições instrumentais, de autoria do músico Rodrigo Salvador, a trabalhos de outros artistas da música nacional, como Tom Zé, que foram selecionadas por Fernando Martins. A proposta de Rodrigo é criar um ambiente sonoro que combine o peso dos instrumentos de percussão, como o tambor, com a leveza da viola caipira, da kalimba e da rabeca, para dar a sensação de que algo pesado e, ao mesmo tempo, sutil, recai sobre os bailarinos no desenrolar da coreografia.

SINOPSE:

NUVENS DE BARRO se inspira no universo poético de Manoel de Barros para recriá-lo nos corpos em movimento. Tomando como pretexto suas palavras "poesia não é para compreender, mas para incorporar", foram dadas formas a um mundo em que realidade e imaginação se misturam. Penteamos os corpos até não serem mais corpos, até ficarem à disposição de serem um pássaro, uma borboleta, uma pedra. Como andarilhos errantes buscamos um quintal perfumado que mora na cabeça, onde o humano se coisifica e as coisas se humanizam... a ludicidade, o humor, e a sensibilidade do poeta são evocadas, pedindo permissão para “voar fora da asa”.

Nuvens de Barro – Cia de Dança Palácio das Artes

Período: 15, 16 e 17 (quarta a sexta) às 20h30;

19 (domingo), com apresentações às 18h30 e às 20h30

Local: Teatro João Ceschiatti – Palácio das Artes

Endereço: Av. Afonso Pena, 1537 – Centro

Ingressos: R$10,00 no Sinparc; R$30,00 (inteira) e R$15,00(meia)

 

Informações para o público: (31) 3236-7400 

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