Peça do Grupo Espanca! se baseia em fatos que chocaram a sociedade brasileira

Espetáculo “Real: Teatro de Revista Política” traz quatro peças curtas com estéticas distintas para abordar fatos da realidade

Já em 2013, o Grupo Espanca! apontava para uma possível virada de chave no trabalho criativo, quando criaram “Onde Está Amarildo?”, cena inspirada no desaparecimento do pedreiro, na Rocinha, no Rio de Janeiro.

A mudança de perspectiva não brotava do além. Partia do acúmulo de experiências que indica um adensamento político, mais nítido, agora, em “Real: Teatro de Revista Política”. A montagem faz sua estreia neste fim de semana em Belo Horizonte, após a temporada em São Paulo, o que rendeu ao trabalho presença na lista dos dez melhores espetáculos de 2015, na retrospectiva do jornal “Estado de S. Paulo”.

“Não só o nosso trabalho, mas nós, nossa geração, a própria cidade e o país vivemos um momento intenso no campo político. E no momento da criação, nossa obra vira um reflexo disso”, conta Gustavo Bones, que assina a direção ao lado de Marcelo Castro.

A convite do grupo, cinco dramaturgos escreveram sobre fatos que marcaram a sociedade brasileira: um linchamento, um atropelamento, uma chacina e um movimento grevista, além da carta de suicídio dos índios Guarani-Kaiowá, que será encenada apenas ano que vem.

Com poéticas distintas, as quatro peças de curta duração compõem a sétima criação do Espanca, em tom assumidamente político, acompanhado de um olhar estético. “Comecei a achar que para entender a realidade no teatro é preciso transformá-la de modo radical. Se a forma não for expressiva, o discurso não chega”, diz Marcelo.

Para ele, diante de intensos fluxos de informações a que estamos submetidos, era preciso fazer com que a realidade fosse sentida de outra forma. “Quando leio algo sobre uma chacina, aquilo me causa um desconforto, mas não sinto o que de fato significa, porque a vida coloca as coisas em uma barra de rolagem de notícias que a gente rola o dia inteiro, nos deixando anestesiados. Em ‘Real’, o trabalho foi fazer uma peça em que as pessoas pudessem sentir essa realidade”, completa.

Guto Muniz

Os fatos apropriados da atualidade são contados de forma a se aproximar do Teatro de Revista, forma expressiva que, inicialmente, se apresentava como uma sucessão de quadros distintos, com uma perspectiva política do que acontecia no país.

“As peças são muito diferentes e poderiam ser apresentadas separadamente. Mas, no conjunto, elas formam um discurso. A própria sequência da apresentação é importante para a experiência, que se inicia com referências diretas ao fato abordado e termina em uma ficcionalização completa”, explica Bones.

“Inquérito”, de Diogo Liberano, abre a apresentação abordando o linchamento de Fabiane Maria de Jesus, em São Paulo, em 2014. “Essa foi a primeira que criamos, talvez porque ela tenha uma linguagem parecida com a do Espanca. É teatral, dramática e é a mais real. Não passa por nenhuma metáfora ou distanciamento para falar do linchamento de uma mulher”, explica Marcelo.

Aprofundando na linguagem da dança, “Parada Serpentina” faz uma pesquisa sobre o movimento a partir de provocações textuais de Byron O’neill sobre a greve dos garis do Rio de Janeiro durante o Carnaval de 2014. Já “O Todo e as Partes”, de Roberto Alvim, utiliza princípios de manipulação de bonecos para abordar o atropelamento do ciclista David Santos Souza, que teve um braço amputado na avenida Paulista, em 2013.

A partir do ângulo de uma família, dos sentimentos de uma mãe, das relações entre os filhos, “Maré”, escrita por Marcio Abreu, finaliza a apresentação com a história da chacina promovida por policiais no complexo da Maré durante as manifestações de junho de 2013.

“Normalmente, as pessoas saem das nossas peças emocionadas, mas este trabalho está em um lugar diferente. Deixa o público mais perplexo. No todo, é um espetáculo forte, uma porrada bem dada. Mas que se inicia com algo bem trágico e finaliza apontando para uma esperança. Ao mesmo tempo que é bem triste, tem uma beleza e mostra que as coisas não são nem tão duras e nem tão doces. São múltiplas”, reflete Marcelo Castro.

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Serviço

Peça: "Real: Teatro de Revista Política"

Local: Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613, Horto)

19/12, às 20h, e 20/12, às 19h

Classificação: 16 anos


Ingressos: http://www.sympla.com.br/grupoespanca

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